Como estabelecer metas que sejam uteis (sem ficar apegado a elas)
E aí, tudo bem contigo?
Antes de falar de metas, a história de origem dessa Newsletter sem metas
Primeiro, obrigado por se inscrever nesse meu novo projeto. Eu tenho uma outra Newsletter, o Daniduc na Holanda. Ela começou como tema livre, onde eu compartilhava assuntos que me interessavam, e com o tempo, migrou naturalmente para Vida na Holanda.
Porém, ainda queria um espaço onde posso falar de outras coisas sem necessariamente ter um formato ou tema fixo. Por isso criei o Tema Livre — onde posso escrever por escrever, e experimentar ideias e formatos.
Pode ter um post no mês, pode ter múltiplos numa semana, posso falar de como organizar a vida ou sobre canto gutural mongol. É um laboratório e uma veículo de expressão pessoal. O objetivo é compartilhar, quando me ocorrerem, pensamentos, técnicas, insights e histórias para quem se interessar, sem criar expectativas prévias.
Se é o seu caso, bem-vindo:
Agora, vamos falar de metas — e seus problemas
Começo de ano é a época de por em prática as ambiciosas metas que estabelecemos no fim do ano passado. Estamos na primeira semana e ainda empolgados, mas tradicionalmente essa empolgação dura mais alguns dias, as vezes um par de semanas, e lá pelo fi de janeiro a imensa maioria de nós já admitiu derrota e mal se lembra da ambição inicial.
Been there, done that, estamos juntos. Metass são, de fato úteis, mas o problema é que duram pouco. Por quê?
Um dos fatores, acredito, é que, assim como rotinas, a gente se apega muito literalmente a elas, numa abordagem tudo ou nada. Se a gente estabelece uma meta, passamos a julgar nossos resultados estritamente de acordo com elas. O que quero dizer com isso? Vamos dar exemplos.
Metas servem para motivar, não para limitar
Eu estabeleci esse ano que irei caminhar ao menos um quilômetro por dia, todos os dias. Eu amo caminhar, e ano passado eu passei de 1600km caminhados. Desde que consegui voltar a caminhar, em março de 2023, minha média diária de passos passou fácil dos 10 mil por dia, muitos meses ficando acima de 12 mil passos por dia. E, tendo temporariamente perdido a habilidade de caminhar, eu valorizo ainda mais essa atividade. Dai minha meta de andar todos os dias de 2024.
Mas “caminhar todos os dias ao menos um quilômetro por diazão quer dizer que irei me limitar a 1 quilômetro no dia, claro. Esse é um dos problemas de levar metas literalmente demais (e não o principal, já chego nele). Eu consigo,e ando, em geral múltiplas quilômetros por dia, e poderia facilmente estabelecer uma meta maior. Mas aí eu posso ficar desmotivado naqueles dias em que sair de casa é difícil, a preguiça é intensa, e é muito mais fácil ficar vendo Netflix.
Se eu colocar “andar 10 mil passos todos os dias”, nesse dia nem vou sair de casa, porque, sério, 10 mil passos é um monte de passos. Sem meta nenhuma, nem vai me ocorrer sair de casa. E com uma meta muito alta, eu sei que vou falhar, enTão nem vou. Porém, nesse dia, pouco menos de mil passos, um quilômetrinho, não é impossível. dá para fazer. E saio. E quem sabe não me empolgo e anda mais? E quem sabe não vejo algo legal lá fora? E quem sabe não alivio a cabeça de um stress que tava me atormentando e eu nem estava consciente dele?
Uma meta que seja ao mesmo tempo desafiadora (andar todo dia) e fácil (pe;op menos um quilômetro) aumenta muito as chances de eu conseguir. Não é para se apegar ao quilômetro literalmente. Se eu puder andar mais eu ando, se rolar de andar menos, tá bom. A parte fácil não é para me limitar — é para me inspirar.
Metas servem para ajudar, não para forçar
Agora, ainda tem o problema da parte difícil. Se a gente se apega literalmente a ela, a gente acaba fazendo coisas que em vez de ajudar, atrapalham. por exemplo, sair de casa para caminhar no frio e na chuva quando você está doente, com febre ou algo assim. Isso não é produtivo. A meta de sair todo o dia, de novo, é para inspirar sair de andar num dia que a preguiça, ou o dia a dia, atrapalhariam sair, e com um pouco de planejamento, poderia ter sido mais fácil. Daí eu saio, e me planejo melhor para conseguir mais fácil da outra vez.
Mas a vida acontece. Tem dias que de fato não deu, e não há o que fazer. Tem dias que sair para caminhar vai na verdade te deixar pior. Nesse dia… não saio. Mas se a gente se apega literalmente a meta, há um sentimento que falhamos, e portanto. não faz mais sentido manter a meta. Já deu errado mesmo, ano que vem a gente tenta.
Se isso acontecer, eu remodelo a meta de “andar todos os dias” para andar “quase todos os dias”. Ou andar todos os dias, exceto ontem. Ou andar todos os dias do ano a partir de hoje. E repito o processo. Assim como a rotina, a meta é um instrumento para tornar a minha vida melhor, não uma prisão que irá me prejudicar. Eu modifico e ajusto esse instrumento para que ele seja sempre util e melhore minha vida.
Metas não são linhas de chegada, mas instrumentos para avaliar seu progresso
Um outro problema potencial de ter uma meta é quando atingimos ela, sentimos que podemos abandona-la. É o inverso do que mencionei, quando a gente abandona uma meta porque falhamos nela: abandonamos porque tivemos sucesso. Já está feito, ta bom.
A meta deve servir para inspirar estabelecer uma rotina, um processo que irá melhorar a sua vida e ter\a. como resultado algo que você deseja — e que está sendo medido pela meta. Ou seja, a meta é uma maneira de você avaliar a eficiência do seu processo, não uma finalidade em si.
Se você notar que está excedendo facilmente a meta, ou que ela foi já atingida, é sinal que seu processo está bom, e você pode reajustar sua expectativa, em vez de abandonar o processo porque a meta foi cumprida.
Por outro lado, se você notar que o seu resultado está bem abaixo da meta, podemos reavaliar o processo, para ver se há como melhorar. Ou até mesmo mudar totalmente os processos, começar mais do começo, trabalhar mais na base.
E se von ficar um pouco abaixo da meta, não quer dizer que houve falha. Quer dizer que sua expetativa estava no geral correta, e o processo funcionou bem no geral, e admite pequenos ajustes apenas.
Por exemplo, se você estabelece que quer correr uma prova de 5km em 25 minutos, e no dia você corre em 25m06, não houve falha por causa desses seis segundos. Você estava com a expectativa correta, e fez o trabalho necessário, com um bom processo. Talvez seja necessário apenas algum pequeno ajuste no dia da prova.
Porém, se você correr em 30 minutos, sua expetativa estava bem fora, e algo deu errado no seu processo. Você perdeu muitos treinos? Você está com um nível de condicionamento muito abaixo do que achava? Qual o motivo? Como mudar isso? Talvez reajustar sua expectativa e trabalhar mais na base. Ou deu algum desastre no dia da prova? Se a temperatura estava dois graus com chuva e evento contra, bem, acontece. Não quer dizer que houve falha na sua meta.
E se você correr muito abaixo do tempo, digamos, 21 minutos? isso quer dizer que você pode bem mais do que achava, e quem sabe vale a pena pegar um treino mais avançado, e buscar metas mais ambiciosas.
Resumindo
Metas são instrumentos, e devem ser calibradas para serem úteis para sua vida
Metas servem para avaliar seu processo, não uma finalidade em si
Metas servem para inspirar, não limitar ou forçar
Obrigado por ter lido até aqui
Esse foi a primeira edição, e todo começo é difícil. Não sei onde isso vai dar, mas é bom ter sua companhia no processo. Obrigado e até a próxima — sobre algo completamente diferente… ou não.
Forte abraço
Daniduc
Adorei essa news que deixei pra ler com calma, e casa muito com meu momento atual: tinha também a meta de caminhar por 30min todos os dias de janeiro, e fiz até o dia 19.
Dia 20, uma crise de coluna me impediu de pisar no chão, e só lá pelo dia 02/02 eu voltei a sentir que esse pequeno impacto era possível novamente.
Apesar de estar frustrada e dolorida, me sinto muito feliz de ter mantido meu compromisso por todo o tempo que me foi possível, só parando quando realmente não pude mais.
Vou levar esses conceitos em consideração a partir de agora, quando a meta é mais ousada: meditar todos os dias :)
Parabéns Duc, começou com o pé direito!